A Publicidade

A publicidade dava os seus primeiros passos e não nos entrava pelos olhos dentro como agora, de qualquer maneira não posso deixar de me referir a ela, pela importância que teve em mim, nestas coisas da escrita.

Havia a publicidade que nos chegava pela telefonia, repetida dia após dia, tendo ficado na memória de toda uma geração.

Quem do meu tempo não recorda ainda a cantiga da "Rádio Vitoria", uma loja de venda de electrodomésticos:


“Candeeiros bem bonitos
modernos originais
Compre-os na rádio Vitória
Não se preocupe mais.
Porque na rádio Vitória
Embaixada do bom gosto


quem lá vai é bem servido
e sai sempre bem disposto
Lá na rua da Vitória 46, 48
Satisfaz-se plenamente
O cliente mais afoito”.

Ou então a da tinta do cabelo "Policolor"

“Se ao seu cabelo      
Quer dar outra cor,
Lave a cabeça
Com Policolor.
Acabam-se as mágoas
E fica o amor,
Depois de usar o Policolor.”

E, quando constipados, quem não ia à farmácia comprar "Formitrol" pois a cantiga quase nos perseguia!

“O senhor está constipado
E ficou mal de repente
Porque não teve cuidado
Porque foi imprevidente.
Para o mal cujo motivo
Está na chuva frio ou sol
Qual o melhor preventivo? Formitrol, Formitrol, Formitrol”

Evidentemente que não é esta publicidade oral que aqui nos interessa referir, mas sim aquela que nos aparecia em suportes escritos.

Umas páginas atrás, tinha-me referido ao meu avô materno, que quando trespassou o armazém de mercearias, para vir morar na Parede, trouxe com ele uns álbuns onde estavam colados rótulos de muitos produtos, chocolates, bolachas…
Era com esses álbuns que eu muitas vezes me entretinha. Serviam-me como complemento às brincadeiras com as bonecas, já que fazer papinhas com terra e água, folhas e pedras me estava vedado, consideradas como brincadeiras sujas pela minha mãe e pela minha avó.

Sempre tive acesso a materiais de escrita- lápis, papéis e borrachas. Embora não tenham ficado registos escritos dessas minhas brincadeiras, lembro-me de passar horas a copiar os diferentes rótulos e a fazer infindáveis listas de compras.




Fazer compras era uma coisa que eu executava bem, andar na rua às “lampanices” com uns e outros era uma coisa que me agradava, daí ser aproveitada para ir fazer pequenos recados à mercearia do Carlos.

Num papelinho escrito pela mão da minha mãe lá ia o recado, para o caso de eu me esquecer:
   - 250 gramas de  bolacha Maria, ou Bonecos…

E de caixas quadradas, as bolachas bem estaladiças, saiam para cartuchos de papel manteiga (só se comprava 250 gramas de cada vez para não amolecerem). Mantinha-se a fidelidade à marca Villares, a excepção ia para as "Línguas de Gato" e para as bolachas de chocolate "Bélinhas", que eram da "Nacional."

Como as coisas eram quase imutáveis, as caixas continuavam iguais às que estavam coladas nos catálogos lá de casa, o que facilitava e tornava mais real, a tarefa de copiar e elaborar as tais listas de compras.

Para a posteridade aqui ficam alguns exemplos dos rótulos de Chocolates. 






Exemplos de algumas Caixas de Bolachas






2 comentários:

  1. Olá, Ana.
    Este testo relembrou-me alguns aspetos da minha infância, sem telefone nem televisão.
    Vivia no Porto.
    Livros, foram o meu primeiro amor e, talvez por isso aprendi a ler muito cedo. Lia tudo. No jornal comecei por me dedicar ao obituário e aos acidentes porque compreendia melhor o sentido do texto, quando viajava de elétrico tentava ler todos os nomes das lojas e respetiva publicidade.

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    1. olá Lucília, no nosso tempo sem telefone nem televisão, mas com livros aprendíamos muito naturalmente as funções da escrita e da leitura. Eu acho que é isso que faz falta hoje em dia. Não se dá importância à escrita do quotidiano.

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